Mas tambem acho que cada uma tem que contar a sua propria experiencia, pois como diz o tiozinho Goenka (com todo respeito) "o objetivo de todos e o mesmo (a libertacao) mas cada um faz seu caminho". Mesmo que se repitam alguns detalhes, afinal de contas "ser humano e humano em todo lugar" e os processos e sentimentos acabam sendo os mesmos em algum ponto, vou contar a minha experinecia...
Nao vou contar como foi dia apos dia, pois nao vou lembrar muito bem ja que "no writing and no reading" (nao podiamos nem ler nossos livros e nem fazer nossas anotacoes) estavam entre as regras do jogo. E talvez minha amiga Kaka fale mais sobre a tecnica em si...
Depois de passar uma noite no melhor hotel que ja ficamos na India ate agora - Hotel Umaid Mahal (Jaipur) - chegamos no Vipassana Center depois de um dia de exploracao financeira. Jaipur e o lugar em que eles mais abusam de nos estrangeiros e simplesmente dobram, triplicam os precos, pois somos claramente ocidentais. Com excecao da Kaka que se colocasse um sari seria a perfeita indiana. Enfim, chegamos no centro estressadas de tanto assedio nas lojas da cidade e morrendo de fome. Depois de fazer a inscricao e ser explorada mais uma vez pelo taxista, comecamos a estremecer pelo fato de que agora nao tinha mais volta e a duvida era grande se realmente iriamos conseguir ficar 10 dias sem falar uma com as outras, sem praticar qualquer atividade fisica, incluindo yoga, sem ler, sem escrever, sem maquina fotografica, sem MP3 ou qualquer tipo de entretenimento, sem contato algum com o mundo la fora, com o passaporte retido, na duvida se iriamos passar fome, etc...Cada uma tinha seu quartinho com banheiro de padroes indianos de limpeza, cheio, cheio de bichinhos desconhecidos, varias especies de aranhas, uma familia inteira de lagartixas e alguns formigoes. O banho era de canequinha, mas tudo bem, tudo estava inserido em um ambiente super gostoso e agradavel, com muito verde e animais lindos do lado de fora - macacos, pavoes, periquitos, esquilos. Fomos advertidas sobre as visitas de cobras e escorpioes, que nao aconteceram.
Apesar de tudo conseguimos enfrentar o Vipassana ate o final, e mais facil do que pensei...
Acordavamos as 4 da manha e dormiamos as 9:30 da noite. Haviam 3 refeicoes por dia, incluindo pimenta no cafe da manha, que nao seguravam a barriga por muito tempo sem roncar (acho que meditar gasta muitas calorias) e mais ou menos 10 horas de meditacao - ou tentativas - por dia, ou seja, a bunda ficou flat flat, perdi uns kilinhos e tenho cheiro de indiano ja. Sem muito o que pensar tentei viver o sistema de corpo e alma. Nesses dias voce nao poderia matar (nem as formigas e aranhas que tentavam invadir a sua cama), roubar, contar mentiras, ter qualquer atividade sexual (so nao sei se pensamento e uma atividade sexual, pois pensei muito no meu namorado, agora ja foi) e nao se intoxicar (fui obrigada a tomar uns antibioticos nos ultimos dias por conta de uma amidalite). Talvez nao tenha sido tanto de corpo e alma, mas mesmo assim obtive alguns bons resultados psicologicos e espirituais, de certeza...Nao senti em nenhum momento aversao por estar ali, pelo contrario, adorei a minha rotina...claro que nada e maravilhoso o tempo todo, mas tudo bem tambem...lei da impermanencia, everything is always changing...ja e um aprendizado!!!
Eu nunca havia praticado qualquer tipo de meditacao que nao fosse rezar na minha caminha confortavel, e de repente tenho que ficar horas sentada prestando atencao na minha respiracao natural. Well, acho que nao passei mais de 5 minutos correntes concentrada nela nos primeiros 3 dias. Era realmente improvavel que a minha mente que tem me dominado durante esses anos todos iria deixar eu nao pensar em nada "nem no futuro e nem no passado", so sentir a minha respiracao e nao as dores no meu joelho e viver somente no presente momento em que entra e sai ar das minhas narinas. Certamente nesses primeiros dias fiquei na batalha mente/respiracao, sem qualquer ansiedade -"just observe" e outro ensinamento - voltando sempre feliz pro meu quartinho de prisao e pro meu mundinho um tanto autista. Mas as vezes, quase sempre, estava eu quase super concentrada e era acordada por algum duplo arroto de nossas colegas velhinhas no fundo da sala. No quarto dia aprendemos a real tecnica Vipassana, a qual prefiro nao dar muitas explicacoes para nao gerar expectativas, e com muito alivio descobri que nao teria que ficar 10 dias apenas sentindo a minha respiracao. E e nesse dia que sinto pela primeira vez meu corpo vibrar por dentro. O que seria isso?? E dificil de explicar, mas so sei que fiquei tao assustada e meu coracao acelerou tanto, mas tanto que fui obrigada a abrir os olhos, pois nao tinha ideia de onde eu iria parar, ja que meu corpo nem se movia. E nos proximos dias fui sentindo outros tipos de sensacoes, vibracoes, choquinhos, bolhas estourando no meu ouvido, etc...Mas infelizmente a batalha com a minha mente nao parou. Ela continuava firme e forte. O momento mais esperado do dia era o video do Goenka que tinha o dom de descrever nossos sentimentos dia apos dia. Ele sempre acertava o que havia acontecido no meu mundinho de batalhas. Ele nos fazia rir com suas piadinhas. Ah, de certeza a coisa que mais senti falta nesses dias foi de dar boas risadas, mesmo rindo a toa por dentro, tinha que desviar as minhas amigas pelo caminho para simplesmente nao cair de tanto rir e ser expulsa do Vipassana. O sexto dia minha mente me rendeu e me dominou o dia inteiro. Tentei desencanar e aceitar o fato de que ela ainda e mais forte que eu, as vezes. No oitavo dia apelei para os antibioticos, ja que nao estava em casa com meu remedinhos naturais e isso atrapalhou um pouco minha performance meditativa. Nos ultimos dias ja nao sentia tantas dores pelo corpo mas ja nao me concentrava tanto. Cheguei a ficar apegada com aquela rotina e meu quartinho, mas o mundo aqui fora e tao bom!! No ultimo dia, no qual podiamos falar, falar e falar fizemos umas amigas indianas, o que foi bem interessante...
Nao sei ate que ponto isso tudo mudou a minha vida, mas estar somente comigo nesses 10 dias foi alucinante...tive a certeza de que a minha felicidade e a solucao dos meu problemas estao sempre dentro de mim e nao nas coisinhas e pessoas la fora...que "tudo passa e esta em constante mudanca" e que eu devo sempre "observar" todas as situacoes da minha vida sem muito desejo ou ansia de que elas acontecam e sem aversao ou relutancia pela as que eu nao quero que acontecam.
Vamos ver o que acontece no dia a dia, back home...e la que eu vou ter certeza dos beneficios desses 10 dias intensos...
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