Quem somos

25 de nov. de 2010

"Tudo da vida é um país estrangeiro"

Marza Tozo
Ocean Beach, San Francisco 2009

Neste exato momento tenho a sensação esquisita por estar realizando mais um passo para conquistar o que sempre quis, o tal do sonho. Esquisita e bipolar, pois na verdade deveria estar apenas dando pulos de alegria, nada mais. Mas não, lá estão sentimentos ansiosos e introspectivos e muitos pontos de interrogação. "Ofereça a eles aquilo que mais desejam secretamente; é claro que entrarão em pânico imediatamente". Portanto, senta que lá vem o processo. Tento analisar a situação como um simples: Óssos do ofício! Afinal toda profissão tem seus prós e contras mesmo. Modelos e atrizes ouvem muitos nãos antes do papel de protagonista e a primeira capa de revista, bailarinas tem pés horríveis, professores de ashtanga acordam muito cedo, e viajantes de alma se despedem e se desprendem por muito tempo.

Por mais que tudo esteja claro, na ordem, fluindo, e agradeço a todos os envolvidos direta e indiretamente, essa mente cheia de autoridades me confunde toda. Sempre nos meses que antecedem uma viagem e nos meses quando volto para casa depois de outra viagem, o bixo pega. Detalhe que nesse momento tenho que arcar com a volta e a nova ida ao mesmo tempo. São meses de conflitos borbulhantes. Sinto que "não tenho nada para oferecer a ninguém, exceto minha própria confusão". Enfim, ocorre sempre muita ressaca emocional, afinal mudar de vida drasticamente de um vôo para outro não é nada fácil, porém viciante. Adaptações e readaptações, despedidas e reencontros viram minha rotina. Também pudera, fui criada para seguir outros caminhos mais 'calmos e concretos'. Daí me pergunto porque eu não poderia me contentar apenas com os pacotes turísticos de 7 dias, dentro de um ônibus de passeio, em hotel 4 estrelas, conhecendo igrejas e monumentos famosos? Não, tem que ir lá pra 'passar' pelo menos 40 dias, nem sempre reservar hotel, só porque chegar na Índia a meia noite sem lugar pra ficar é mais emocionante, por exemplo, procurar emprego, subemprego e quarto para alugar, se envolver profundamente com as pessoas como se realmente fosse o último dia de nossas vidas, andar no 'backstage' dos pontos turísticos e dar informações para os turistas, ficar atrás da camera em busca dos mínimos detalhes que não aparecem nas revistas da agência de viagens, enfim....decidi há muito tempo atrás ser uma viajante de alma, "que vai além dos fatos e das paredes, além das ruínas e dos entalhes, das pessoas e dos percalços." (Ronny Hein) Ah sim chavão querido - qualidade é bem melhor que quantidade. E cá estou...lidando com as contradições da entressafra de partidas e chegadas, com os olhares da sociedade que ora me olham atravessado:
- Vai viajar de novo?
Ora me chamam de corajosa e soltam:
- Isso mesmo, aproveita a vida.
- Por que? Você não aproveita a sua? - é o que penso. Apenas fizemos escolhas diferentes...
Os prós prefiro comentar durante as viagens, apesar que a última foi tão intensa que não conseguia nem escrever, mas os contras soam mais ou menos assim: construo apenas meu presente, minha vida amorosa fica tão confusa quanto eu, minha credibilidade em seguir os projetos caem drasticamente, enfrento diferentes tipos de solidão, outros planos são adiados, perco o meu 'pertencer a algum lugar', tenho sintomas de paixão...por uma cidade e minha mãe sempre insiste - depois dessa você sossega né?
De qualquer maneira cá estou eu a devorar mais um guia desses: Europe on a budget. O interessante é que meu budget me permite pouco, mas tenho certeza de querer muito. Passagem com validade de um ano e bagagem para quatro estações. Espero tudo e ao mesmo tempo nada. Se por um acaso, o acaso me impedir de seguir "(...) não importa, a estrada é a vida" mesmo. Assim...

Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!
(...)
Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome...
(...)
Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm
Para quê?
As crianças correm
Para onde?
Transito entre dois lados
De um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?
(...)
Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...
(Adriana Calcanhoto)

É, eu ainda "queimo, queimo, queimo" nesta direção e agradeço a oportunidade de dançar esta música.

Obs: todas citações que não menciono o autor são de Jack Kerouac, inclusive o título.

Um comentário:

Kaká disse...

Comentar essa postagem merece uma postagem nova... mas vou me segurar nos detalhes.

Amiga.. qualidade sim é melhor que quantidade, falando de viagens nós bem sentimos isso na pele.
pacotes de 7 dias = quantidade
40 dias (no mínimo) = qualidade.

Por que nos envolvemos com as cidades e com as pessoas? Simplesmente pq temos coragem, estamos abertas para as experiências e principalmente porque por muito tempo mantramos freedom time, eis a liberdade tão sonhada.

Sobre os comentários das outras pessoas "vai viajar de novo. Isso mesmo, vai lá". Acredito que é uma maneira de expressar qualquer coisa... sempre temos que comentar algo, nada mais... uns tem inveja, outros medos, alguns julgam mesmo... outros nem querem ou sequer pensam em viajar.

AMEI o contra da minha profissão.. acordar cedo vai ficando foda, mas depois acostuma.


Ah, para terminar, a credibilidade no mercado.
Se até eu conquistei a minha de volta... pode ficar tranquila, você está com créditos :)

Cada dia que passa amo mais tudo isso... viajar, viver, praticar, observar, processar, escrever no blog.. fazer projetos e desfazer.. e processar e continuar vivendo.
Obrigada por compartilhar sempre "tudo isso"