"Arjuna sabe que a guerra é inevitável, que terão de lutar, ele e seus irmãos, para o restabelecimento do Dharma, da ordem. Ele está seguro em relação a isso, mas, quando vê que todos que estão reunidos no campo de batalha são seus parentes, amigos e conhecidos, incluindo o avô e o mestre no campo inimigo, é tomado por uma grande emoção. Ele percebe o conflito no qual se encontra. Nenhuma de suas escolhas lhe trará a felicidade completa. Se lutar, ele fará o que deve ser feito por ele, como príncipe e guerreiro; se não lutar, estará abandonando seu papel. Vencer dará a ele e seus irmãos o sucesso na terra; morrer lhes dará o céu, tendo morrido no cumprimento de seu dever. Porém, para vencer, terão que matar os parentes e amigos.
Arjuna entende, naquele momento, o que significa o samsara-cakra, a roda de samsara, o ciclo contínuo da vida, com momentos de felicidade e infelicidade, que jamais produz a satisfação completa. Qualquer ganho sempre envolve uma perda, e a perda, um ganho. Arjuna entende que, através da ação, satisfazendo seus desejos de segurança e prazer, ainda que governada pelo Dharma, jamais alcançará a satisfação. Continuamente haverá o desejo de ser feliz, de ser suficiente.
O desejo é um sintoma de que a pessoa não está completa. E não é exatamente um objeto que ela deseja, mas algo através do qual ela planeja ser diferente e feliz. Isso porque já conclui que é infeliz do jeito que é, limitada e insuficiente.
O desejo, é consequentemente a ação para ser diferente, e só então feliz, é o impulso para a roda do samsara, da constante transformação na vida e a inevitável insatisfação, pois uma pessoa limitada somada a um número infinito de conquistas limitadas será sempre insuficiente e limitada e, portanto, infeliz. Não serão acréscimos que o farão infeliz ou feliz! Talvez o façam sentir-se mais confortável. Se é possível ser feliz e completo, não será através de um processo de transformação, mas através da descoberta do ser eterno e completo.
Será possível dar um basta à busca sem fim de ser diferente, e, então, ser feliz?"
BHAGAVADGITA
tradução do sânscrito e comentários de
GLÓRIA ARIEIRA
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