Quem somos

26 de fev. de 2010

Corpos enciborgados



Corta para hoje. Religião não cola mais. No ocidente, muita gente ainda vai aos templos. Mas quantos acreditam mesmo naquilo tudo? Nos rituais? Aposto que muito poucos. A maioria vai por hábito, comodismo ou por um sentimento de “na dúvida, deixa eu me garantir”. Então, se a ideia da vida eterna não convence, a obsessão pelo corpo, em oposição à alma, cresce. Se você não é mesmo imortal, vai tratar de prolongar a vida, começando pela adolescência, que agora vai até os 30 e poucos, e evitar o quanto puder a velhice, antes respeitável e agora desprezível. Será preciso então se cuidar, fazer esporte, se alimentar bem? Sim, mas você pode se agarrar na tecnomedicina, que promete para breve uma quase infinita sobrevida aos corpos, enciborgados pela troca de peças defeituosas por outras, novas, eletrônicas, silicônicas ou “celulastroncamente” criadas.

Que tal, por exemplo, trocar suas lentas pernas por um par de Nike Leg Runners, mais fashion e adequadas às demandas atuais? Ou seus olhos cansados por Oakley SightSeekers, com cor customizável e visão noturna? E, quando chegarmos a esse ponto, dê-se o braço a torcer, o que fará falta será um pouquinho de Aristóteles, de Grécia, de alma. Pois será que não estaremos tentando, no fim das contas, basicamente prolongar a vida besta, vazia e consumista dos nossos corpos artificialmente excitados, bronzeados e bem torneados destes tempos contemporâneos?

*André Caramuru Aubert para Revista TRIP.
Leia o artigo completo http://revistatrip.uol.com.br/revista/184/colunas/os-gregos-e-o-silicone.html

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